Não raramente conheço pessoas que adentram na minha vida como pássaros feridos.Chegam desorientados, magoados e entorpecidos de ressentimentos.
Chegam fragilizados, inquietos e cheios de temores. Alguns imaginam que gostam de mim, outros despertam a minha ternura e tentam me enrredar numa teia macia e maleável da sedução, outros ainda se entremeiam nos meus afetos visualizando em mim uma fortaleza absurdamente irreal.
Eles chegam como pássaros feridos!
Vão se aninhando no meu cotidiano tecendo com palavras e desabafos um manto imenso e silencioso de verdades inconfessadas.
Não sei exatamente porque os atraio, nem sou tão forte, nem tão sábia, aliás, me perco nos meus pecadilhos e nas minhas carências atávicas. Mas eles invadem minha vida como os beija-flores, desnorteados e afoitos. E eu cuido deles, reparo com cuidado suas ranhaduras , suas quebraduras e esfolamentos da alma. Mostro caminhos alternativos e verdades impensadas; As verdades são sempre insuspeitas e muitas vezes indesejáveis. Talvez meu maior talento seja esse, torná-los fortes para que possam ver o outro lado da verdade.
Não sei exatamente quando comecei a atrai-los, sei apenas que chegavam tristes e machucados reconhecendo afinidades e conquistando meus afetos. Mas, assim como vinham se aninhar na minha vida ao se sentirem felizes e seguros partiam, sem avaliar a extensão e intensidade que suas ausencias causariam no meu peito.
Inicialmente eu sofria de uma solidão exasperante e confusa. Nem sempre nos preparamos para o não reconhecimento. Mas tantos vieram e partiram, tantas foram as almas restauradas com os meus mais delicados carinhos, que aprendi a vê-los partir sem ressentimentos, antes mesmo, com uma certa euforia e aceitação.
Eles chegam no entardecer de suas tristezas e partem no amanhecer de suas novas alegrias e não demora muito para que não reconheçam mais em mim um abrigo. Talento cruel e estranho esse meu; de restaurar almas quebradas, corações doentes e ânimos desaquecidos numa sequencia solitária e triste.