domingo, 1 de maio de 2011

Rosas de Abril




“Rosas a me confundir... Rosas a te confundir.
São muitas, são tantas! São todas tão rosas,
Rosas de Abril!”.

   Trabalho vendendo rosas, ainda que seja um ofício que não me permitirá enriquecer, sinto-me privilegiada em lidar cotidianamente com os detalhes mais sofisticados da natureza; suas flores inúmeras e de belezas imensuráveis: são rosas, lírios, Amarílis, begônias, orquídeas...Uma variedade fascinante de cores, formato e perfumes.
   Como se não bastasse tanta beleza, sou envolvida permanentemente aos amores e afetos que são enaltecidos pelas flores, em destaque, o amor sensual. São homens apaixonados que adentram a loja com olhos inquietos, as mãos aflitas e um sorriso, assim, meio encabulado, desnudando a alma e o desejo urgente de surpreenderem e emudecerem a mulher amada...Esses, exigem o tão decantado Bouquet de rosas vermelhas e cartões com dedicatórias ingênuas e deliciosas. Chegam aflitos e saem confiantes depositam naquela profusão de rosas ruivas, uma quase certeza de um quase amor.
   As rosas também exaltam as paixões duradouras. São homens tranqüilos com o coração e o sexo saciados, que buscam nas rosas, as surpresas, as certificações do ainda amar e a valorização do tempo partilhado com a companheira. Homens exigentes, seguros, detentores de mulheres especiais. Para esses, as rosas podem ser despudoradamente coloridas: amarelas, brancas, ambiance...Um arco-íris à disposição do amor maduro.
   Também são coroados por rosas rubras, os amores clandestinos, deliciosamente ocultos. Amantes afoitos, esquivos, divididos entrem a alegria extrema e a tragédia. Os amores secretos, além de flores, requerem acompanhamento de chocolates finos, vinhos e perfumes ou outras mimosuras capazes de aquietar as culpas, mesmo as mais arraigadas.
   Amores esses que, quando são descobertos, num rasgo de pequenas tragédias amorosas, requerem rosas embebidas de desculpas, de choros e arrependimentos; São flores destinadas a repararem corações feridos; infinitamente tristes e magoados. A traição é sempre devastadora! Rosas perdidas, inquietas, numa guerra inútil e sem vencedores, onde o amor sempre perde as pessoas.
   Não nos esqueçamos de mencionar as mulheres nesses rituais ornados a flores, também elas utilizam a magia das rosas para reforçarem seus naturais atributos de sedução. São rosas despetaladas, cujas pétalas sempre rubras, serão profusamente jogadas nos leitos, em banhos de espumas, e em cenários os mais inusitados, caprichosamente preparados para a paixão. Rosas despetaladas a mercê dos caprichos de mulheres voluptuosas, ansiosas em desabrocharem junto aos braços de homens privilegiados.
   Mas, nem só de paixão sensual vivem as flores: As grandes comemorações requerem flores moldadas nos mais diversos e sofisticados arranjos. As comemorações singelas requerem flores delicadas e acessíveis como as margaridas e os lírios...E as alegrias breves, as violetas, os pequenos crisântemos e kalachues!
   O mundo das flores também comporta as tristezas e as grandes dores. As mesmas rosas que recebem alegremente os recém-nascidos, que deslumbram os noivos e convidados, que felicitam os formando e os vitoriosos e esquentam os desejos dos amantes, se revestem de silêncios e coroam os lutos, os prantos a as perdas irreversíveis. “Coroai me de rosas... e de folhas de hera... e basta!”.
   O universo das rosas não me permitira enriquecer, é fato. Mas, é comovente observar o tênue equilíbrio existente entre os homens e as rosas, entre a necessidade de se fazer amar, de amar, de despedir, de recepcionar... Utilizando os recursos mais belos, coloridos e efêmeros da natureza, suas flores: de abril, maio, junho...




































Tânia Fonseca

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