sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O Deus que habita em mim!





As diversas representações de Deus sempre me fascinaram. Seus ritos, dogmas e louvores sempre inquietaram minha alma e me deixavam perturbada. Nasci em uma família muito pobre, de pai e mãe  simples e de caráter inquestionáveis. Um lar onde Deus era representado na retidão da moral e no respeito ao próximo. Um lar onde as coisas da igreja e suas lindas representações eram sumariamente ignoradas.
Minha mãe era e é uma mulher  trabalhadora, prática e forte como uma árvore de acapu. Tinha e têm pelo sistema religioso uma desconfiança absoluta. Para ela destituída das amenidades da alegria fácil e descompromissada, as festividades  dos rituais, os festejos e comemorações e mesmo os louvores  religiosos eram vistos como uma absoluta falta de ocupação.
 Minha mãe formou a família na  exigência de uma moral inabalável e correta. Vivia do e para o trabalho árduo com o qual ajudava meu pai no sustento de  todos. E em meio a sua labuta transmitia uma particular convivência com Deus. Um Deus que sabia como agir não necessitando de nenhuma intervenção humana. Para minha mãe, ir a igreja era  uma inversão da fé, afinal, em sua concepção realista e desencantada da vida, Deus estava no trabalho, junto aos aflitos e sempre ao seu lado, nunca nas igrejas. Para ela, toda e qualquer religião era questionável. E padres, pastores, policiais e políticos pessoas das quais nos,os filhos, deveríamos manter a maior distancia possível. E assim ela ausentou de forma irrevogável as manifestações religiosas da minha infância.
Eu então cresci vendo a religiosidade de forma fracionada. Era fascinada pelos rituais católicos, com suas missas cênicas, suas procissões dramáticas carregando e expondo um Cristo morto pelas ruas. Suas festas juninas repletas de alegrias e encantos infantis. Gostava do replicar do sinos. da missa do galo, das novenas familiares que contemplava as casas do bairro (menos a minha é claro, minha mãe via nessas reuniões um agrupamento de mulheres e homens desocupados e cansativos) Eu, ao contrário amava esses rituais. eu era a menina que puxava a ladainha, que lia os trechos bíblicos, sempre auxiliando meus vizinhos católicos que me adotavam provisoriamente, para contrariedade visceral da minha mãe. Eu admirava  também os rituais do candomblé com seus orixás coloridos e aguerridos. Ficava fascinada pelos búzios, os pretos velhos, pelas magia, feitiços, macumbas e amarrações amorosas. Lia escondido livros sobre feitiçaria e encantos. E á noite, apavorada ia dormir com meus pais, atormentada com as diversas faces de Deus.
Me encantava também os evangélicos sempre tão disciplinados e tão severos com suas roupas sóbrias e suas fé inquebrantáveis e soturnas. O Deus evangélico era muito sisudo pra mim. Eu tinha medo dele, da sua fúria e dos seus castigos. E  foi tentando compreende-lo que iniciei a leitura da bíblia e conheci seus personagens irracíveis e destemidos.Me extasiava também com a religiosidade cigana, com suas crenças baseadas nos simbólico baralhos, tarô  e linhas das mãos...Secretamente eu desejava ser roubada por um bando de ciganos e sair por ai descifrando o oculto, o passado e o futuro.
Os Deuses da minha infância eram vários, confusos e imprecisos. Eles me assustavam, me encantavam e permeavam meu coração de menina de sobressaltos e assombros. Impassível  à indiferença religiosa da minha mãe, eu me deliciava com esse deus que vinha até mim de forma clandestina e silenciosa. A minha fé foi forjada num mosaico de Deuses e crenças diversos e nos ensinamentos sólidos da minha mãe com sua casa simples sempre disponível e pronta a acomodar, agasalhar e acolher. 
Quando cresci, rapidamente me casei e literalmente me mudei pra longe...muito longe!Foram décadas em terras distantes e inóspitas. E assim como minha mãe criei meus filhos na retidão do caráter  e da honestidade. E da mesma forma que ela mantive os sistemas religiosos distante do meu lar. O meu Deus eu agasalhava dentro de mim. Ele já não era clandestino, ele agora me pertencia, era senhor absoluto da minha espiritualidade. Continuava fracionado, variado, mas não era mais impreciso. Eu o conhecia totalmente e confiava cegamente em sua lealdade. Mas minha religiosidade continua ausente. A desconfiança nas igrejas estava irremediavelmente incrustada na minha alma.Olhava a todas com o olhar da minha mãe. O tempo passou...os filhos cresceram e se foram e meu ninho ficou vazio.E meu DEUS arisco e discreto tornou-se mais presente, mais prosa, mais próximo e constante. Somos agora inseparáveis.
O Deus que habita em mim é lindo! É bom e generoso. Faz ouvidos moucos às minhas lamentações e imprecações quando estou furiosa e contrariada. Mas não se faz de rogado e me faz carinho quando peço desculpas e me refugio na sua força. É um Deus forte que me carrega no colo quando caio aflita e sobrecarregada. É um Deus  amoroso quando me acalma e restabelece meu animo. É um conselheiro atencioso e compreensivo. É discreto, e permite que eu chore abundantemente na sua paz quando estou cansada e magoada. Às vezes, quando estou muito triste eu sinto ele ao meu lado numa vigília silenciosa e atenta.  E não tarda ele me presenteia com surpresas tão belas e doces, revestidas nas flores do meu jardim, no amor dos meus animais ou em uma notícia boa e inusitada.
O Deus que habita em mim é da paz, porém valente  e protetor . E apesar de não  impedir que o mal se aproxime de mim ( eu sou um ser livre)  Ele não permite que esse mal  toque a minha alma. Inúmeras foram as pessoas  imbuídas de más intenções e maldades que entraram na minha vida e me feriram gravemente. Mas o meu Deus, como um guardião feroz e fiel, não permitiu nem permite que nada nem ninguém macule de forma irremediável o meu coração.
O Deus que habita em mim é um Deus suave e paciente que não se exaspera com minhas inesgotáveis curiosidades sobre o oculto, o passado e o futuro.O meu Deus não se importa com minhas cartas de tarot, nem com minha admiração e respeito pelos entes espirituais de diversas religiões. Ele não se zanga quando me emociono às lágrimas nos rituais católicos ou com os louvores lindamente cantados pelos evangélicos ou quando me deixo abençoar pelos passes dos espíritas kardecista...Alias, ele fica feliz quando eu o levo para conhecer os diversos templos indicados por amigos. Onde juntos fortacemos nossa união.
O Deus que habita em mim só tem uma exigência, a única necessária para que ele se mantenha inseparável de mim; Que eu seja melhor a cada dia, que eu possa exercitar em mim a prática do bem, do amor e da caridade. E assim sendo, ele nunca me faltará.










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