quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Confronto...

Sentaram-se para tomar um café após uma longa e inexplicada ausência. Ela tinha as feições fechadas e zangadas, tentando aparentar em vão uma dignidade em frangalhos. Ele sentiu pena dela. Percebeu o esforço hercúleo de que ela necessitava para não se desconstruir à sua frente.
Analisou, não sem sentir um certo remorso, sua figura esguia e frágil. Percebeu o decote entreaberto e quase podia sentir o macio dos seios pequenos. Sentiu um ligeiro ciúme em imaginá-los distantes e expostos assim entre botões. Num rompante quase os tocou e sentiu raiva dela, por ter vindo, por precisar dele, por despertar nele sensações que o inquietava e o perturbava. Envergonhou-se por tê-la deixado sozinha, sem explicações, sem despedidas; como se ela fosse uma mulher breve e desimportante — e ela tinha sido tão doce, tão leal, tão confiável. Ela confiou nele e ele a deixou sozinha.
A fragilidade dela, sua bravura e determinação desmedida, ao invés de agastá-lo deveria tê-lo comovido. Não deveria jamais tê-la deixado tão só! Ficaram sentados a se olharem. Temeu que lhe admoestasse com cobranças e censuras previsíveis, mas ela só rompeu o silêncio para perguntar:
– Você um dia foi meu amigo?
O inusitado da pergunta o surpreendeu. Não teve sequer tempo de elaborar uma resposta condizente.
– “Foi”?! Eu sou seu amigo!
Só então percebeu que sua resposta o denunciara: deixava exposta sua atitude condenável de ter abandonado uma pessoa em cujo colo afagou suas tantas mágoas. Sentiu-se cansado, um silêncio pesado se aninhou em seu peito. A tarde indiferente consumia suas horas e o café esquecido esfriava na mesa.


Tânia Fonseca





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