DESLIZES...

           Aguardava por ela ansiosamente e  da janela do apartamento avistava a cidade iluminada. O frio gritante invadia a sala...Uma leve pressão nas temporas lembrava que sua atitude era errada e leviana, amava a esposa, sentia-se seguro ao seu lado, gostava de se aconchegar em seu colo e de sua companhia tranquila e confiante. Porque então, ansiava pela chegada de outra? Amava a esposa e estava esperando aflito a chegada  de uma outra mulher...Uma quase estranha, uma mulher da qual sabia tão pouco, quase nada.
       Queria ligar e pedir que ela não viesse agora, que não viesse nunca mais.
       Queria ligar e desmarcar o encontro.
       Queria voltar pra cama e ligar para a esposa ausente em viagem rápida a trabalho.
       Queria tomar um conhaque...
       Mas ficou quieto...Ouviu o elevador chegando. Ouviu passos apressados. Abriu a porta e ela invadiu a sala sorrindo e falando trivialidades. Sentiu um frio absurdo e se jogou em abraços gostosos e aconchegantes. Ficaram se gatafunhando no sofá...Reconhecendo um ao outro um tanto desconcertados e desajeitados. Um desejo urgente e latente foi se aninhando entre eles...

        Gostava do cheiro dela, da pele dela, do corpo dela... Gostava de percorrer a nudez dela com a boca,  devagar... Degustando as sensaçoes que despertadas vinham se lançar nos seus beijos em espasmos lentos e vigorosos.  E ela também gostava de trilhar com os dedos,  as reentrâncias e  saliências do relevo  do  corpo dele, se deleitando com a geografia afetiva que se estendia túgido em suas mãos. indo se perder em sua boca num beijo macio e molhado. A cada novo encontro seus corpos revelavam sensações inebriantes e diferenciadas. Uma paisagem selvagem e sensual encoberta de sussuros e risos.

          O sofá foi se tornando pequenos demais...Poucas seriam as horas...Talvez mais tarde ligasse para a  esposa distante... Talvez mais tarde tomasse um conhaque...Talvez...